Caso Luisa Baptista: cena de atropelamento de triatleta foi alterada após moto ser colocada em outro local; entenda

07/10/2025 - 14:35  
Caso Luisa Baptista: cena de atropelamento de triatleta foi alterada após moto ser colocada em outro local; entenda

‘Segunda Largada’: socorristas e peritos comentam alteração na cena do acidente 'Você não pode mexer nisso, não'. A frase do empresário Paulo Manzini aconteceu momentos após uma pessoa alterar a cena do atropelamento da triatleta Luisa Baptista na Estrada Municipal Abel Terrugi (SCA-329), em São Carlos (SP), em 2023. REVEJA: confira todos os episódios da série 'Segunda Largada' 🔎A série especial "Segunda Largada", lançada pela EPTV neste mês de outubro, retrata a difícil caminhada da triatleta Luisa Baptista para retomar a vida após o trauma e como foi a investigação do do acidente. Ela ficou dois meses em coma, com quase 30 fraturas. Nayn José Sales, responsável pela colisão e que não possuía Carteira Nacional de Habilitação (CNH), será julgado no dia 15 de outubro por tentativa de homicídio por dolo eventual (quando se assume o risco de matar). 📱 Siga o g1 São Carlos e Araraquara no Instagram No 4º episódio, socorrista, perito, familiares e amigos apontam que a interferência humana poderia atrapalhar as investigações policiais. A mudança de posição foi minimizada pela defesa do motociclista (leia mais abaixo). Perícia durante trabalho no local do acidente de Luisa Baptista, em dezembro de 2023 em São Carlos (SP) Reprodução/EPTV Leia também: BASTIDORES: série da EPTV narra superação da triatleta atropelada durante treino para Olimpíadas SOCORRO: videochamada para médico ajudou a salvar triatleta atropelada durante treino JULGAMENTO: Justiça marca júri popular de acusado de atropelar triatleta Cena de atropelamento alterada O empresário e triatleta amador Paulo Manzini, amigo de Luisa, foi quem percebeu quando um homem não identificado retirou a moto e colocou do outro lado da estrada. Ele afirma que pediu repetidas vezes para que o rapaz deixasse o veículo no local de origem, mas não foi ouvido. A alteração da cena de um acidente de trânsito é considerada crime que prevê detenção de seis meses a um ano, ou multa. “Você começa a pensar: 'o que aconteceu?'. E eu vi um rapaz tirando a moto, que estava caída, e passando para o lado direito da pista. Aí eu disse: 'você não pode mexer nisso, não!’ Mas ele colocou a moto do outro lado”, explicou. O socorrista Carlos Alberto Rodrigues, do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), conta que, instantes após comparecerem ao local, as equipes perceberam que a moto havia sido deixada do outro lado da pista. Estima-se que a chegada do resgate ocorreu aproximadamente três minutos depois do recebimento das primeiras informações. “A gente já estava em deslocamento para o Hospital de Referência, e a moto já estava do outro lado, já no ‘pezinho’. Ou seja, alguém mexeu na moto e a colocou na lateral da pista”, afirmou o socorrista. Moto foi colocada do outro lado da Estrada Municipal Abel Terrugi (SCA-329), no distrito de Santa Eudóxia, em São Carlos Reprodução/EPTV Perícia técnica Em casos de acidente de trânsito, o perito criminal Bruno Lazzarini de Lima afirma que as equipes realizam ações como fotografias e croquis (esboço) do local do acidente, visando auxiliar as investigações. A alteração da cena, segundo ele, também precisa ser levada em conta. “Nesse caso, o perito deve indicar em seu lado que houve prejuízo aos exames, exatamente porque os vestígios foram mudados de posição”, ressalta o perito. Pai de Luísa, o dentista Ronaldo Centelha Bastos afirma que a bicicleta utilizada pela filha ficou completamente destruída após a colisão, tornando as investigações ainda mais complexas. “Catei o que sobrou da bicicleta, que não era realmente para estar entortada, e aconteceu de quebrar e entortar. Ela [bicicleta] está dentro de uma caixa lá e, às vezes, eu dou uma olhadinha, mas não quero olhar muito. Dificultou a perícia, também”, lembrou. Bicicleta da triatleta Luisa Baptista ficou totalmente destruída Reprodução/EPTV Controvérsia sobre o choque As primeiras informações davam conta que Luísa havia tido a bicicleta atingida na traseira pelo motociclista. Contudo, as equipes policiais constataram que o atropelamento havia sido frontal. A dúvida foi levantada principalmente por médicos que constataram machucados frontais na triatleta. “Eu lembro perfeitamente quando [a Luisa] chegou ao Hospital das Clínicas e os médicos estavam sem entender porque a Luisa havia tido uma ruptura no fígado”, lembrou a farmacêutica Jaqueline Duarte, mãe de Luisa. Machucados, fraturas e lesão no fígado intrigaram médico pela dinâmica relatada no acidente da triatlea Arquivo pessoal Defesa não vê 'maldade' em mudança Advogado de Nayn Sales, Roquelaine Baptista dos Santos afirma que a mudança de posição da moto não se tratava de uma estratégia da defesa. “Isso aí não foi uma maldade. [Uma pessoa] viu uma moto do Nayn ali caída, tirou ela do lugar e colocou no outro. Mas não era uma questão de mudar até para estratégia da defesa, até porque não vai alterar nada”, afirma o advogado. Velocidade acima do limite Vídeos publicados por Nayn Sales nas redes sociais mostram o motociclista pilotando a moto a 107 km/h na mesma estrada onde viria a atropelar Luisa. O limite da pista é 60 km/h. “Em um dos trechos, eu comecei a ver alguns pinheiros e vi que era o mesmo trecho do de um vídeo que ele posta no Facebook, andando de moto acima da velocidade, na contramão, mostrando que não é a primeira e a última vez que ele fazia aquilo”, contou o irmão de Luisa, Vitor Duarte. Vídeo postado por Nayn mostra a velocidade de 108 km/h na via, acima do permitido no local, 60 km/h. Arquivo pessoal O advogado de Nayn minimizou o ocorrido e disse que o cliente reúne as habilidades necessárias para condução do veículo, mesmo sem CNH. O crime é considerado infração gravíssima com multa de R$ 880. “Ele pilotando lá, é, moleque, né? Pilotou e postou isso lá. Ali já mostra, vamos dizer, uma habilidade para dirigir, entende? Quem não tem habilidade para dirigir, não vai andar. [...] É comum ter motoristas aí tocando sem CNH. Eu não vejo uma pessoa não ter habilitação não ser habilitada para conduzir o o veículo”, disse. A alegação é questionada por Francisco Tolentino Neto, advogado de Luisa. “Dirigir sem habilitação, tanto de veículo automotor como de motocicleta, é delito, é crime, não mais contravenção”, pontuou Neto. Luisa Baptista durante entrevista para a série especial "Segunda Largada", da EPTV Reprodução/EPTV REVEJA VÍDEOS DA EPTV CENTRAL: Veja mais notícias da região no g1 São Carlos e Araraquara