Execução de casal por recompensa milionária em SP: investigação revela novos documentos em contêiner e cena do crime alterada

28/08/2025 - 05:20  
Execução de casal por recompensa milionária em SP: investigação revela novos documentos em contêiner e cena do crime alterada

Caminhonete onde vítimas foram encontradas; no destaque, as vítimas Polícia Militar e Reprodução Uma decisão judicial publicada nesta quarta-feira (27) traz novos detalhes sobre a investigação dos assassinatos do casal de empresários José Eduardo Ometto Pavan, de 69 anos, e Rosana Ferrari, de 61, cujos corpos foram encontrados em uma caminhonete, em uma chácara de São Pedro (SP). Entre os detalhes, estão a localização de novos documentos em um contêiner e a alteração da cena do crime. Sete pessoas foram presas e denunciadas pelo duplo homicídio que, segundo a Polícia Civil, ocorreu a mando de dois advogados das vítimas, para se apropriarem de seu patrimônio milionário. Aos executores do crime, também teria sido prometida uma recompensa milionária. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Piracicaba no WhatsApp As novas informações estão em uma decisão na qual foi mantida a prisão dos advogados Hércules Barroso e Fernanda Teixeira, apontados como mandantes do crime. Nela, o desembargador Jayme Walmer de Freitas, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), afirmou que, se mantidos em liberdade, os acusados podem se desfazer de provas "imprescindíveis à elucidação dos fatos", além de combinar versões para suas defesas. Casal de empresários assassinado em SP: Justiça torna réus os 7 acusados Alteração da cena do crime "A necessidade da prisão ainda permanece. Os investigados teriam praticado atos de efetivo embaraço à investigação, consistentes na alteração da cena do crime e substituição da linha telefônica de outro investigado", afirma Freitas. Não foi detalhado na decisão o que foi alterado no local dos homicídios. Por meio de quebra de sigilo telefônica, o desembargador aponta que foi possível estabelecer o vínculo entre os investigados e revelar suas presenças físicas no local do crime, antes e depois da execução. "Existe, ainda, o depoimento de uma testemunha, que afirmou ter visto, dias antes do crime, um casal acompanhado de dois homens, sendo um deles Carlos [outro acusado], na área da Estância Morro Verde (local onde as vítimas teriam sido mortas). Ademais, há o depoimento de uma testemunha sigilosa que declarou ter visto Carlos na companhia da vítima J.E.O.P. [José Eduardo Ometto Pavan]", detalhou. Chácara onde o casal foi encontrado morto, em São Pedro Gustavo Nolasco/ EPTV Documentos em contêiner Um dos exemplos que ele dá sobre necessidade da manutenção da prisão é a descoberta de que o casal de advogados mantinha um contêiner alugado, em nome de uma empresa, onde foram localizados documentos. "Após busca e apreensão judicialmente autorizada [...], foram localizados [no contêiner] novos documentos em nome da vítima J.E.P. [José Eduardo Ometto Pavan] relacionados aos fatos em apuração. Se os investigados estivessem soltos, haveria cenário para que destruíssem tais documentos", argumentou. A decisão não detalha quais foram os documentos localizados. Sobre a decisão pela manutenção da prisão, o defensor dos advogados acusados, Reginaldo da Silveira, afirmou que entrou com um habeas corpus para que o tribunal analise a necessidade da prisão cautelar, uma vez que o Código de Processo Penal permite outras medidas cautelares diferentes da prisão e com o mesmo objetivo. "Garantia da ordem pública e garantia da instrução processual", acrescentou. Veículo onde foram encontradas as vítimas Polícia Militar Relembre o caso As vítimas eram de Araraquara (SP) e estavam em São Pedro em viagem para lazer quando foram mortas. Os assassinatos foram motivados por interesse no patrimônio milionário das vítimas, informou a Polícia Civil. A relação entre elas e os advogados mandantes do crime começou em 2013, quando as vítimas adquiriram 16 flats em São Carlos (SP), venderam e nunca entregaram. Os advogados passaram a defendê-los nesse processo. Vítimas e mandantes participaram juntos, inicialmente, da transferência de bens para tentar blindar o patrimônio. Os defensores tinham acesso aos bens das vítimas por meio de uma holding. Segundo a polícia, os advogados receberam imóveis das vítimas, avaliados em R$ 12 milhões, ao longo dos anos. A propriedade de São Pedro onde o casal foi morto já estava em nome dos advogados, como parte da transferência de imóveis. Também conforme as acusações, os investigados falsificaram documentos para enganar as vítimas e se apropriar de valores por custas processuais inexistentes, somando R$ 2,8 milhões. Os investigados vão responder por homicídio qualificado, associação criminosa, estelionato, falsidade ideológica, uso de documento falso, ocultação de cadáver e fraude processual. Os defensores dos advogados presos recorreram e afirmam que a decisão que determinou a prisão não tem uma justificativa adequada. Também sustentam que seus clientes colaboraram com a investigação, o que tornou a prisão desnecessária. Vídeo mostra prisão de Índio, suspeito de matar casal de empresários Perdas patrimoniais de R$ 20 milhões As investigações do caso foram realizadas pela 3ª Delegacia de Homicídios da Delegacia Especializada em Investigações Criminais (Deic) de Piracicaba (SP), que já tinha realizado a prisão dos sete durante as apurações. "Foi identificado que, após sofisticado esquema criminoso, as vítimas tiveram perdas patrimoniais que podem chegar a R$ 20 milhões. Tal esquema foi orquestrado e executado pelos advogados das vítimas, Hércules Praça Barroso e Fernanda Morales Teixeira Barroso", informou a Deic, em nota. A delegacia também resumiu como o plano para apropriação dos bens das vítimas foi arquitetado: "A dilapidação patrimonial consistiu em síntese, na cobrança de custas/despesas processuais inexistentes, falsificação de decisão judicial, falsificação de notas fiscais e, sob o argumento de blindagem patrimonial, na passagem de bens imóveis de alto valor das vítimas para os advogados. Com a posse dos bens, os advogados deram início à segunda parte do plano, que consistiu na eliminação física das vítimas", revelou. A seguir, entenda qual foi a participação de cada investigado, segundo as investigações policiais: Hércules Barroso e Fernanda Teixeira Casal de advogados Hércules Praça Barroso e Fernanda Morales Teixeira Barroso, suspeitos de envolvimento na morte de casal em São Pedro Reprodução/Redes Sociais Quem são: Hércules Praça Barroso e Fernanda Morales Teixeira eram advogados das vítimas há mais de 10 anos, segundo informações de familiares. Eles foram presos em junho de 2025. Participações no crime: Segundo as investigações, os advogados foram os mandantes do crime, e tinham como objetivo ficar com o patrimônio das vítimas. De acordo com a polícia, os advogados falsificaram documentos para enganar as vítimas e conseguir se apropriar de cerca de R$ 12 milhões em imóveis e mais de R$ 2,8 milhões em pagamentos de custos processuais inexistentes. O que diz a defesa: Advogado do casal, Reginaldo Silveira afirma que as provas são frágeis. "Havia uma relação entre as partes, uma relação de escritório de advocacia, onde honorários eram pagos através de imóveis, não eram pagos em espécie. Nós vamos conseguir provar a inocência do casal. [...] Vamos comprovar que, realmente, a única relação que havia era justamente a de advogado-cliente, nada mais do que isso", alegou. Cesão e Índio Carlos Cesar Lopes de Oliveira, o Césão, um dos suspeitos da execução de um casal de empresários de Araraquara (SP) Reprodução/EPTV Quem são: Carlos Cesar Lopes de Oliveira, o Cesão, é motorista particular. Tentou se candidatar a vereador de São Carlos (SP), nas eleições de 2024, pelo Partido da Mulher Brasileira (PMB). A candidatura, no entanto, foi negada pela Justiça Eleitoral por não ter apresentado certidões criminais. Ednaldo José Vieira é conhecido como Índio e tem 54 anos e, segundo a polícia, possui antecedentes criminais. Eles foram presos em junho de 2025. Participações no crime: Segundo as investigações, os dois foram os responsáveis por matar o casal. De acordo com a Deic, houve promessa de recompensa milionária pela morte das vítimas. O que diz a defesa: A defesa dos dois informou que respeita a investigação, mas diz que as acusações em relação a Cesar e Ednaldo foram baseadas em provas frágeis. "Faltam ainda laudos pericias serem juntados no inquérito policial. A exemplo o laudo de comprovação que a arma apreendida foi a utilizada no crime. Os acusados se declaram inocentes desde o início das investigações. A defesa nos próximos dias estará trabalhando tecnicamente para conseguir a liberdade dos acusados", acrescentou, em nota. Alex Severino de Lira, Saúde e Cacá Prisões de últimos suspeitos de envolvimento em morte de casal em São Pedro Wagner Romano - Conecta Pira Quem são: Alex Severino de Lira, de 29 anos, José Severino de Lira, de 60 (Saúde), e Carlos José do Amaral (Cacá), de 39, são os três últimos suspeitos presos. Alex e Saúde são pai e filho, e Alex é casado com a sobrinha de Cacá. Participações no crime: Eles são investigados por fornecer a arma do crime. Durante cumprimento de quatro mandados de busca, houve a apreensão da pistola. O que dizem as defesas: A defesa de José Severino afirmou que ele é inocente e desconhecia "por completo as vítimas e os advogados apontados como supostos mandantes". "Até o presente momento, não existe qualquer prova concreta que o vincule ao crime. Ele confia na Justiça e está determinado a demonstrar, de forma cabal, a verdade dos fatos e a sua inocência. A defesa ressalta que todos os fatos serão integralmente esclarecidos no curso regular da instrução processual, momento em que ficará provada sua inocência", acrescentou. O g1 não conseguiu contato com os advogados de Alex Severino e Carlos José. Material apreendido durante cumprimento de mandados de busca e apreensão, em São Carlos, pela Polícia Civil de Piracicaba Polícia Civil de Piracicaba/ Reprodução LEIA MAIS: Casal é achado morto dentro de veículo em chácara na Serra de São Pedro e polícia investiga caso Advogados de casal achado morto são presos suspeitos de serem mandantes do crime Advogados presos queriam ficar com patrimônio das vítimas, diz polícia Quem são os advogados suspeitos de mandar matar casal; prisão foi em condomínio de luxo VÍDEOS: tudo sobre Piracicaba e região Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba