Medicamento inalável para tratar tuberculose é desenvolvido em pesquisa da Unesp Araraquara

06/08/2025 - 08:50  
Medicamento inalável para tratar tuberculose é desenvolvido em pesquisa da Unesp Araraquara

Atualmente, o tratamento da tuberculose exige a ingestão diária de quatro antibióticos em forma de comprimido, por no mínimo seis meses Envato/ Divulgação Um grupo de pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unesp de Araraquara (SP) desenvolveu um dispositivo semelhante a uma bombinha de asma para tratamento inovador contra a tuberculose. Segundo a pesquisa, o medicamento inalável é mais potente e eficaz, com potencial de substituir a terapia oral utilizada atualmente. Com investimento de cerca de R$ 14 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e apoio do Sistema Único de Saúde (SUS), o objetivo é desenvolver o dispositivo nos próximos três anos. ✅Clique aqui para seguir o canal do g1 São Carlos no WhatsApp Nomeado de "Inova TB", o projeto propõe uma nova estratégia para o tratamento da tuberculose aproveitando os fármacos já utilizados contra a doença em um sistema que combina partículas em escala nanométrica e micrométrica com funções específicas. “Há pelo menos duas décadas não há novidades significativas no mercado de medicamentos para tuberculose. Por isso, este projeto pode representar um salto terapêutico importante, especialmente se conseguirmos atingir as estruturas infectadas com doses menores, mais eficazes e com menos efeitos colaterais”, destaca Fernando Rogério Pavan, professor que coordena a proposta . A pesquisa é realizada junto aos pesquisadores Andréia Bagliotti Meneguin, Leonardo Miziara Barboza Ferreira, Lucas Amaral Machado e Marlus Chorilli, docentes da FCF. Tratamento de baixa adesão O estudo explica que hoje muitos pacientes com tuberculose desistem do tratamento tradicional que é longo e com efeitos colaterais. “É um tratamento muito exigente, principalmente para pessoas em situação de rua, indígenas, detentos ou qualquer indivíduo com baixa estrutura de apoio. Isso contribui para o abandono e para o surgimento de bactérias mais resistentes”, disse Pavan. Uma pessoa em tratamento precisa ingerir até 12 comprimidos por dia, durante seis, doze ou até 24 meses, o que acaba resultando muitas vezes em baixa adesão. Nesses casos, o tempo de tratamento sobe para, no mínimo, dois anos, e a chance de cura diminui para cerca de 50%. LEIA TAMBÉM: ARARAQUARA: Sistema de baixo custo para detectar formol em leite e cosméticos é criado pela Unesp TEORIA: Pesquisadores da Unesp Rio Claro solucionam problema matemático que não era resolvido há 124 anos MULHERES NA CIÊNCIA: Cientista concilia maternidade e pesquisas na Unesp: 'Deixar filhos melhores para o mundo', diz No novo modelo, os fármacos seriam veiculados por meio de micropartículas que atingiriam diretamente os pulmões, local onde a bactéria causadora da tuberculose se instala e se protege dentro de estruturas chamadas granulomas. Os pesquisadores explicam que a ideia inovadora de tratar a tuberculose por via inalatória foi determinante para que o projeto se destacasse em um edital altamente competitivo. O projeto conquistou a 9ª colocação no programa "Mais Inovação Brasil Saúde - ICT" da FINEP no final de 2023, e concorreu com mais de 200 propostas em todo o país. Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da da Unesp de Araraquara desenvolvem a pesquisa Divulgação Doença letal Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a tuberculose voltou a ser a doença infecciosa que mais mata no mundo. Em 2023, foram 10,8 milhões de novos casos. No Brasil, o índice de infecção é quase seis vezes superior à meta estipulada pela OMS. Nanotecnologia O diferencial da proposta está no uso de nanopartículas feitas de compostos naturais produzidos pelos próprios pulmões (surfactantes pulmonares) capazes de transportar os medicamentos até o foco da infecção. “Precisamos dessa tecnologia porque os remédios convencionais têm dificuldade de penetrar no interior dos granulomas, que são estruturas localizadas no pulmão e que servem de “esconderijo” para as bactérias. O nosso objetivo é aumentar a quantidade de medicamento que consegue atingir essas áreas”, explicou a pesquisadora Andréia Bagliotti Meneguin. Essas nanopartículas são encapsuladas dentro de estruturas maiores, em escala micrométrica. “Elas precisam ter um tamanho ideal: pequenas o suficiente para serem inaladas, mas grandes o bastante para não serem eliminadas logo na expiração”, detalhou a professora. Segundo os pesquisadores, a administração dos medicamentos com a ajuda de substâncias naturais vindas dos pulmões torna a proposta ainda mais promissora. “Todo remédio tem, além do princípio ativo, outros componentes chamados excipientes. Eles ajudam na produção, estabilidade e na absorção do medicamento, mas, muitas vezes, são sintéticos e não interagem bem com o organismo. Isso pode causar reações adversas e reduzir a eficiência do tratamento”, disse o professor Lucas Amaral Machado da FCF. Além disso, como a nova tecnologia idealizada pelos docentes trabalha em escala nanométrica, ou seja, mil vezes menor que a espessura de um fio de cabelo, ela permite um nível de precisão que os tratamentos tradicionais não conseguem alcançar. A a equipe da FCF pretende usar a nanotecnologia para tornar o tratamento da tuberculose mais direto, eficaz e seguro, algo que pode representar um avanço significativo na forma como combatemos uma das doenças infecciosas mais persistentes do mundo. Jornada científica Apesar de estar na etapa inicial, a pesquisa tem fases bem delimitadas, que envolvem estudos físico-químicos, avaliação da atividade antimicrobiana em laboratório e testes em modelos animais. Somente após essa etapa será possível analisar a viabilidade clínica e considerar o início de ensaios em humanos. De acordo com o professor Leonardo Miziara Barboza Ferreira, a expectativa é de que a tecnologia desenvolvida possa futuramente ser aplicada a outras doenças com relevância em saúde pública, como Covid-19, pneumonias, asma e outras condições crônicas. O projeto também terá impacto direto na formação de recursos humanos, com a previsão de bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. “Mesmo que o produto final leve tempo para se concretizar, o legado científico e formativo será imediato. E, caso a hipótese se confirme, o Brasil poderá contar com uma solução nacional, acessível e de impacto real no SUS”, conclui Ferreira. Veja vídeo: Cientista concilia maternidade e pesquisas no IQ da Unesp Araraquara Dia das Mães: cientista concilia maternidade e pesquisas no IQ da Unesp Araraquara REVEJA VÍDEOS DA EPTV CENTRAL: Veja mais notícias da região no g1 São Carlos e Araraquara