Como é o teste de R$ 10 da Unesp que detecta metanol em bebidas alcoólicas em apenas 15 minutos

04/10/2025 - 06:20  
Como é o teste de R$ 10 da Unesp que detecta metanol em bebidas alcoólicas em apenas 15 minutos

Unesp desenvolveu método para detectar metanol em bebidas há 3 anos Diante de um crescente número de casos de intoxicação por metanol que já atingiu, ao menos, 113 pessoas no Brasil, uma tecnologia desenvolvida há três anos no Instituto de Química da Unesp, em Araraquara (SP), ganha nova relevância. 📱 Siga o g1 São Carlos e Araraquara no Instagram Em 2022, pesquisadores criaram um método rápido, barato e de fácil utilização para identificar a presença da substância tóxica em bebidas e combustíveis, mas a solução patenteada nunca chegou ao mercado por falta de parceiros comerciais. Em apenas 15 minutos e com um custo de R$ 10 é possível fazer a identificação. (veja mais abaixo). LEIA TAMBÉM: Brasil tem 113 notificações de intoxicação por metanol em 5 estados e no DF Com mais casos de intoxicação por metanol, deputados querem tornar adulteração de bebidas um crime hediondo Reprodução/TV Globo A pesquisa foi liderada por Larissa Alves de Mello Modesto, à época mestranda na universidade. Hoje, como mestre em química e analista de desenvolvimento analítico, ela lamenta a demora na adoção da tecnologia. "A patente está disponível há três anos para que alguma empresa produza um kit analítico e o venda. A demora acontece porque o controle de metanol em bebidas estava sendo negligenciado, até acontecer uma catástrofe de nível nacional como a de agora", afirmou a pesquisadora. Veja mais abaixo como entrar em contato com a universidade para iniciar o processo de transferência de tecnologia. Solução rápida e barata O método desenvolvido pela equipe de Larissa resultou em um kit capaz de detectar a adulteração por metanol em bebidas como cachaça, uísque e vodca, além de combustíveis como etanol e gasolina. O grande diferencial é a simplicidade e o baixo custo. Enquanto análises laboratoriais tradicionais, como a cromatografia gasosa, custam cerca de R$ 500 por amostra, o kit da Unesp teria um preço final de venda estimado em R$ 10, segundo a pesquisadora. O resultado é rápido: a identificação do metanol leva apenas 15 minutos em bebidas e etanol, e 25 minutos na gasolina, sem exigir conhecimento técnico especializado. Veja mais notícias da região: ACIDENTE: Descarrilamento em Araraquara mobiliza força-tarefa para retirar 30 vagões e liberar trilhos SUSPEITA: Casal é encontrado morto dentro de casa em Rio Claro; polícia investiga homicídio SEGUNDA LARGADA: série especial relata o caso de superação de Luisa Baptista "Trata-se de uma sequência de reações químicas capazes de determinar o metanol nas amostras", explicou Modesto. "Se as instruções forem seguidas, uma pessoa minimamente treinada é capaz de operar o teste." Como o teste funciona O processo ocorre em duas etapas simples: Reação inicial: Adiciona-se um sal à amostra. Se houver metanol, ele é convertido em outra substância (formol). Revelação: Em seguida, a adição de um ácido provoca uma mudança de cor na solução, indicando a presença e a concentração do contaminante. Veja no vídeo abaixo como funciona o método: Veja como funciona o método da Unesp para identificar metanol em bebidas e combustível A pesquisadora destaca a clareza do resultado para bebidas. "No caso das bebidas alcoólicas, como o limite [permitido por lei] é muito baixo, podemos assumir que o surgimento de qualquer coloração ou anel roxo já indica que a bebida está imprópria para o consumo", detalhou. As cores podem variar conforme o nível de adulteração: Verde: Sem contaminação significativa. Tom verde amarronzado: Presença de 0,1% a 0,4%. Marrom: Presença de 0,5% a 0,9%. Roxo: Presença de 1% a 20%. Azul marinho: Presença de 50% a 100%. Método identifica metanol em 15 minutos Larissa Modesto/Unesp Araraquara Ainda de acordo com a pesquisadora, o método segue a norma RDC 166 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estabelece critérios para a validação do uso, garantindo qualidade, confiabilidade e precisão dos resultados obtidos em ensaios laboratoriais aplicados a insumos farmacêuticos, medicamentos e produtos biológicos em todas as fases de produção. "Só vai dar um falso [positivo] se a bebida for açucarada. Com ele [açúcar], acaba reagindo com uma das minhas soluções e dá uma coloração marrom, não sendo possível quantificar o metanol. Mas se a bebida não for açucarada, é muito difícil ele dar um falso positivo", explicou a pesquisadora. Alerta ignorado O metanol é uma substância mais barata e livre de impostos, usada criminosamente para aumentar o volume de bebidas e combustíveis. O composto, no entanto, é altamente tóxico, podendo causar cegueira e morte se ingerido – quadro clínico observado nos casos atuais. Segundo Larissa Modesto, o foco do kit seriam os próprios estabelecimentos comerciais, para garantir a segurança de seus clientes. "A aplicação seria para donos de bares, de adegas, organizadores de eventos. A responsabilidade de garantir a qualidade do que ele está servindo é totalmente dele", pontuou. Diante da emergência sanitária de 2025, a tecnologia desenvolvida no interior de São Paulo se apresenta como uma ferramenta estratégica que poderia ter auxiliado na fiscalização e na prevenção de novas tragédias. A crise do metanol Ministério da Saúde recebeu mais de 40 notificações de intoxicação por metanol Reprodução/TV Globo A crise atual levou o governo a mobilizar uma força-tarefa. O número de notificações de intoxicação por metanol após ingestão de bebida alcoólica subiu para 113 no Brasil, segundo balanço do Ministério da Saúde divulgado na tarde desta sexta-feira (3). As notificações incluem casos confirmados e suspeitos, além de mortes. Bahia, Paraná e Mato Grosso do Sul notificaram seus primeiros casos em investigação. Em todo o país, são 11 casos confirmados e 102 em investigação. Do total de 113 notificações por esse tipo de intoxicação, 101 são em São Paulo (11 confirmados e 90 em investigação), 6 casos em investigação em Pernambuco, 2 em investigação na Bahia e no Distrito Federal, e 1 caso está sendo investigado no Paraná e Mato Grosso do Sul. Dessas notificações, 12 são de óbitos. Um óbito confirmado no estado de São Paulo e 11 estão sendo investigados (8 em SP, 1 em PE, 1 na BA e 1 no MS). O Ministério da Justiça e Segurança Pública associa as ocorrências ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas, e a Polícia Federal foi acionada devido à suspeita de envolvimento de uma organização criminosa. Transferência de Tecnologia Instituto de Química da Unesp de Araraquara desenvolveu método que identifica metanol nas bebidas Divulgação Em casos de pesquisas como essa que podem ser utilizadas para a comercialização por outras empresas, é preciso iniciar o processo de Transferência de Tecnologia. Trata-se do processo que permite que o conhecimento gerado no âmbito acadêmico seja convertido em produtos e serviços que beneficiem a sociedade. Muitas vezes, esse procedimento também é denominado transferência de conhecimento. A tecnologia pode ser compartilhada de diversas formas, porém as mais comuns são o licenciamento e os acordos de desenvolvimento em parceria. Os acordos são firmados entre a Unesp e terceiros, como empresas e instituições de pesquisa para a execução de projetos e/ou contratos de serviços tecnológicos. A Agência Unesp de Inovação negocia contratos de licença exclusiva ou não exclusiva, permitindo que empresas utilizem a tecnologia. O licenciamento pode envolver pagamento de royalties ou outras formas de compensação. Para empresas e empreendedores interessados em realizar o processo com a Unesp, o contato deve ser realizado pelos e-mails: auin@unesp.br ou auin.tt@unesp.br. Veja mais notícias da região no g1 São Carlos e Araraquara