Empreendedores LGBTQIA+ conquistam espaços no interior de SP: 'realização de sonho', diz drag

28/06/2025 - 15:20  
Empreendedores LGBTQIA+ conquistam espaços no interior de SP: 'realização de sonho', diz drag

No Dia do Orgulho LGBTQIA+ celebrado neste sábado (28), conheça bistrô vegano liderado por equipe queer, e bar comandado por drag queen e mulher trans em São Carlos. Marcela Souza abriu um bistrô vegano e as amigas Faby Sampaio e DJ Charlenny empreenderam com um bar temático LGBT em São Carlos Arquivo pessoal Um bistrô vegano liderado por uma equipe queer, e um bar comandado por uma drag queen e uma mulher trans se destacam em São Carlos, no interior de São Paulo, Neste sábado (28), Dia do Orgulho LGBTQIA+, que inclui lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, intersexo, assexuais e outras identidades, o g1 conta a trajetória de dois empreendimentos que estão conquistando público na cidade. 📲 Participe do canal do g1 São Carlos e Araraquara no WhatsAp “Hoje vivo a realização de um sonho muito antigo, que era poder criar um espaço divertido e acolhedor para meus amigos e pessoas como nós que fazem parte da comunidade queer. Em São Carlos nunca teve de fato um espaço assim, todos que tentaram tiveram problemas e fecharam as portas”, disse Murillo Serontoni, mais conhecido como a drag queen DJ Charlenny, de 31 anos. LEIA TAMBÉM: FUNK: Dia da Visibilidade Trans: artista de SP canta sobre preconceitos sem perder o deboche e alegria de viver ARARAQUARA: Sem família e sobrevivente de violência, mulher trans tem nova vida em 1ª casa LGBTQIA+ do interior de SP: 'sonho é ser feliz' REPRESENTATIVIDADE: Ludmilla celebra a comunidade LGBTQIA+ e o empoderamento da favela em show na Tusca; VÍDEO Amizade ballroom Performando como Dj Charlenny, Murillo é presença constante em eventos como a Taça Universitária de São Carlos (Tusca), e festas eventuais da Iés, uma equipe que realiza festas LGBTQIAPN+ em São Carlos. Mas ele conta que há anos sente falta de espaços para a comunidade queer fora de eventos esporádicos do calendário. Assim, junto da amiga dançarina e DJ Faby Sampaio, de 18 anos, ele abriu o Hause of Char neste ano. Murillo explicou que o conceito do estabelecimento faz referência às casas da cultura do ballroom (espaços underground de celebração da diversidade, resistência e apoio LGBT). “Desde 2018 sentia a falta de um local assim, tenho muito orgulho de ser parte tanto das festas Iés quanto do meu novo bar. O nome já traz uma referência às Houses da cultura ballroom que sempre funcionaram como casas de apoio e pertencimento para pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, e nessa estrada do empreendimento tenho comigo uma sócia, uma mulher trans que é minha parceira noite e dia tentando conquistar o mercado juntas”, contou. DJ Charlenny é presença marcante e constante em festas LGBTQIAPN+ em São Carlos e região Divulgação Espaço seguro Apesar da pouca idade, Faby Sampaio sempre soube quem era e o que queria. A dançarina se identifica como mulher desde os 13 anos, e não com o gênero masculino de nascimento. Ano após ano, o Brasil continua liderando o ranking do país que mais mata pessoas trans no mundo. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em dossiê divulgado em janeiro de 2025, é o 16º ano consecutivo que o país configura a lista violenta. Para as empreendedoras, abrir um bar que respeite e acolha pessoas LGBTs foi um passo decisivo e urgente para a comunidade. “Quando falamos de espaços seguros as pessoas já pensam em policiais na porta e 20 câmeras de segurança e está ótimo, mas não é sobre isso, é sobre ter um lugar que a comunidade se sinta segura não em termos físicos porque isso é inevitável a qualquer pessoa, mas pelo fato de sentar numa mesa e não ser ofendido”, disse Faby. Faby e DJ Charlenny abriram um bar para público LGBTQIA+ em São Carlos: "realização de um sonho" Divulgação Transfobia e conservadorismo Faby já passou por diversas situações de transfobia, mas não se deixou abalar. Corajosa, ela dribla e se inspira na caminhada da DJ Charlenny e na dela mesma. “Como qualquer outra pessoa da comunidade já sofri diversos ataques e transtornos, isso está no meu dia a dia quando erram meu pronome, me olham torto na rua, quando riem de mim no mercado ou quando uma atendente de loja quer te levar para sessão masculina após dizer que queria um vestido. Mas com toda certeza o que me inspira sou eu mesma ao olhar no espelho e ver tudo que eu passei, por ser quem sou e ter tudo o que tenho hoje e o que estou construindo”, comentou. Para Murillo, ser artista drag queen no interior de São Paulo é ter fôlego para enfrentar o conservadorismo e ainda esbanjar muito brilho e representatividade. Hoje, ele é referência para jovens drags e queers que se inspiram em sua presença e atuação marcante. “Ser drag queem no interior de SP é ser resistência e representatividade, e o melhor é poder ser referência para muitas que chegam até mim pedindo conselhos, ou então enviando mensagens de carinho para com a minha arte. É tudo mais difícil no interior conservador, mas sinto que avancei muito e conquistei espaços antes dominados por pessoas preconceituosas onde hoje sou aplaudido”, disse. Bistrô colorido Inspirada em um modelo de mundo mais inclusivo e menos cruel com os animais, a chef de cozinha e empreendedora Marcela Sousa, de 41 anos, teve a ideia de começar um restaurante vegano na cidade. A iniciativa veio após uma feira vegana no Restaurante Universitário (RU) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em 2013. De lá para cá, ela já empreendeu com sorvetes e se estabeleceu no bistrô Amora, no centro de São Carlos. O local oferece cardápio diferenciado, com comidas típicas de alguns países, como o “pad thai”, famoso prato da culinária tailandesa. Com uma equipe de 6 pessoas, a maioria LGBTQIA+, a casa tem um política na hora de contratar cozinheiras, entregadores ou ajudantes. “Nós empregamos qualquer pessoa que não seja um homem cis hétero. Trabalhamos com praticamente uma equipe queer”, disse Marcela. Cardápio vegano diferenciado e autonomia do cliente são propostas da chef Marcela Sousa em São Carlos Arquivo pessoal Perfil do empreeendedor LGBT Em 2022, um levantamento inédito do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que 2,9 milhões de pessoas se autoidentificam como homossexuais ou bissexuais no país. De acordo com uma pesquisa inédita do Sebrae deste ano, 55% da população LGBTQIA+ já empreende ou tem potencial para negócios. Já a população trans tem representatividade maior nos empreendimentos, com 70% de participação. Confira os dados: 60% tem até 34 anos e maioria tem ensino médio e superior completo, ganha acima de 3 de salários mensais 30% são brancos e 12% pretos ou pardos 70% são pessoas trans que emprendem, sendo 14% em cultura ou ou entretenimento Mais de 50% empreendem pela internet, fazendo usos de diversos canaas, como e-comerce e redes sociais 75% das empresas são de Microempreendedor Individual (MEI) Desafios Como qualquer comércio, a chef Marcela enfrenta desafios na gestão, ainda mais se tratando de um estabelecimento de perfil diferenciado do prato ao balcão. Por exemplo, a relação com os clientes é de extrema confiança e autonomia. Não há uma comanda para marcar o que se consome, o cliente que informa o que consumiu no caixa. “O mais desafiador é fazer a gestão de um restaurante vivo, nós não atendemos a nenhum padrão, somos únicas. Um jeito único, uma comida única, um lugar único. Não é facil sustentar um lugar diferenciado assim numa cidade como a nossa. A relação que a gente cria é sem hierarquia, a gente da autonomia e depositamos confiança para o cliente se servir”, disse. Autonomia: clientes da chef Marcela Souza não recebem comanda e dizem no caixa o que consumiram em bistrô Arquivo pessoal Delícias culinárias, culturais e respeito Além da parte culinária, que inclui mensalmente uma noite de hamburgada com DJ, o espaço também abre para lançamentos de livros, saraus e até cine-clube. A chef lembra que como São Carlos é uma cidade universitária e de passagem, com pessoas de vários países transitando, a inspiração para os sabores e temperos também vem daí. “Me inspira cozinhar para as pessoas vindo de vários lugares do mundo e levando consigo a experiência de comer uma comida afetiva, saborosa e sem crueldade. As pessoas saem muito felizes daqui, isso é o que mais me inspira", contou. Para a empreeendedora, o dia do Orgulho LGBT envolve respeito e emancipação. “Sempre fui muito respeitada. A data não é só sobre o amor, nosso orgulho é sobre a luta e emancipação de todos os corpos”, finalizou. Veja vídeo: Sebrae realiza pesquisa e traça perfil da comunidade LGBT empreendedora Sebrae realiza pesquisa e traça perfil da comunidade LGBT empreendedora REVEJA VÍDEOS DA EPTV: Veja mais notícias da região no g1 São Carlos e Araraquara